«No tempo em que não havia nome de Portugal, a Rainha desta terra, que ia desde a Galiza até Gaia, tomou-se de namoros com um fidalgo marroquino. Chamava-se a Rainha Dona Urraca e o mouro Alboazar. Bem ela afirmava o seu amor ao Rei Dom Ramiro, mas o coração fugia-lhe para longe. Um dia a renegada, perdida de amores, fugiu com o marroquino para um castelo em Gaia. Julgava-se ali segura e feliz!
O pobre Rei D. Ramiro viu-se sem esposa e sem honra! Tal ultraje e afronta não podia ficar assim. Temia envolver numa guerra todo o seu exército, aquando a traidora fugisse para mais longe. Por isso resolveu tomar outras medidas. Vestiu-se de pobre mendigo. E embarcou numa pequena barca, que foi descendo pela costa até entrar pelo rio dentro. Aí informou-se da presença da mulher. Era verdade! Eles estavam naquele castelo, em descurada vigilância, entregues à paixão.
Assim, numa noite de breu, roubou a esposa enquanto todos dormiam. Correndo para um navio que ali estava atracado, subiu pelo mar até um lugar chamado de Gontinhães, na foz de um pequeno rio, onde atracou para descansar. Aqui chegado, contou aos seus fidalgos e aos seus filhos a traição da rainha, pedindo-lhes ajuda para dar a melhor justiça, a tão vil acto de sua mulher. Todos ouviram com muita tristeza a tamanha maldade daquela mulher. O Infante D. Ordonho, com as lágrimas pelos olhos, disse a seu pai:
- Senhor, a mim não cabe falar, porque é minha mãe! Não digo senão que olheis pela vossa honra!
Mais ninguém ousou dizer alguma coisa ao Rei. Como era noite, foram todos descansar, deixando a rainha presa, junto com as mulheres que estavam com ela. No dia seguinte foram dizer ao Rei que a Rainha estava a chorar. Logo o Rei disse:
- Vamos vê-la!
Foram todos os conselheiros com ele. Quando chegaram junto dela, perguntou-lhe o rei:
- Porque é que chorais?
- Porque mataste Alboazar, que era muito melhor que tu!
Todos ficaram horrorizados com semelhante afronta! O Infante, não querendo acreditar no que ouvira, só teve tempo para dizer:
- Isto é obra do diabo! Meu pai, o que fareis com ela? Ela ainda vai fugir novamente!
Então o Rei amarrou a esposa traidora a uma âncora e lançou-a ao mar! Orgulhoso, não a deixou nas mãos do inimigo, mas, ofendido na sua honra, também não a quis para si.
Abandonando D. Urraca no fundo do mar presa à âncora, regressou D. Ramiro ao seu castelo. A partir daquele dia, o rio onde tal sucedeu passou-se a chamar Rio Âncora!
Veja-se Alves (1985:477): “é tradição muito antiga, referida por vários historiadores, inclusive, i Conde D. Pedro no seu “Nobiliário”, que o rio Âncora e, posteriormente, as localidades vizinhas devem este nome ao facto de «a rainha D. Urraca em castigo de adultério ter sido afogada neste rio, por ordem de El-Rei D. Ramiro II e de seus filhos, com uma âncora presa ao pescoço». Verdade ou ficção o mesmo motivo vai apaixonar Garrett que o imortalizou no seu «Cancioneiro», deixando-nos a historia da morte de D. Gaia, suposta mulher de Ramiro, por ela afogada nas aguas do rio Douro…”
A versão de Gaia, esposa do Rei Ramiro, é-nos dada por Teófilo Braga (vol. II. 1999: 171-173). Nesta versão Gaia morre no local a que se dá o nome. Ramiro usa de um estratagema ardiloso para escapar às mãos de Alboazar (umas vezes referido como Almançor e outras como Abencadão, e no nosso texto Alboazar. No referido Livro Velho das Linhagens, Alboazar é o filho de Ramiro e de D. Alda, a baptizada Ortiga, moura que fora companheira de Gaia e que Ramiro havia raptado.) e conseguiu matá-lo. Esta narrativa está dentro da tradição da poesia árabe e herda o imaginário dos amores do jovem poeta Murakkich, vindo, assim, a adaptar-se às lendas nacionais.
A lenda aqui narrada insere muitos elementos que nos foram transmitidos por Domingos Luís Verde, de Vila Praia de Âncora.»
Retirado do Livro "Lendas do Vale do Minho", Maio 2002, Associação de Municípios do Vale do Minho
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